quinta-feira, abril 05, 2007

trio elétrico armandinho, dodô & osmar e o frevo baiano

Quem foi o primeiro cantor de trio elétrico? A primeira pessoa a emprestar sua voz aos frevos instrumentais que eram executados nos trios elétricos, na década de 70? O cantor, compositor e instrumentista baiano Moraes Moreira, que completa 60 anos de idade em 2007, foi o tal. Após sua saída do grupo Novos Baianos, partiu, em 1975, para a carreira solo, dedicando-se, principalmente, ao carnaval da Bahia, cantando e colocando letras nos frevos instrumentais da dupla Dodô & Osmar, como Pombo Correio. Em meados dos anos 80, já reconhecido e consagrado devido ao sucesso de músicas como Chão da Praça, resolveu afastar-se do carnaval por entender que a festa estava entregando-se demais à sedução comercial e perdendo a essência.
Mesmo com a ausência de Moraes, o carnaval continuou. Dodô e Osmar, que há 55 anos inauguraram as tocatas, deram prosseguimento à sua invenção mirabolante e à adaptação do frevo pernambucano ao carnaval baiano. Aliás, o ano de 1975 foi o momento do retorno deles à festa de Momo, após longa pausa; e, quando conseguiram, enfim, gravar seu primeiro disco. O título Jubileu de Prata remetia aos 25 anos da invenção, de fato, do trio elétrico (um Ford 29, bem diferente do modelo contemporâneo).
Após 40 anos de parceria musical, Dodô morre, em junho de 1978, e deixa a cargo de Osmar levar ainda mais adiante a criação da dupla de baianos. A partir da década de 80, surge a participação do (há tempos promissor) guitarrista Armandinho. Agora fica “Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar”. Com o passar dos anos, o trio não se fechou às novas tendências musicais e incorporou na sonoridade do conjunto a batida dos blocos afro e afoxés e músicas de outros compositores, como o cearense Fausto Nilo e o baiano Walter Queiroz.
Com a forte consolidação da chamada Axé Music, no início dos anos 90, eles param com o lançamento anual de discos. Em 1996, recebem uma justa homenagem de vários artistas, com a gravação de um CD, contendo grandes sucessos da dupla. Participam do projeto Moraes Moreira, Alceu Valença, Elba Ramalho, Daniela Mercury e Asa de Águia, dentre outros. Em 1997, Osmar Macedo vem a falecer. Mesmo sem a força de outrora, sob liderança de Armandinho, a família Macedo ainda mantém acesa, no carnaval da Bahia, a chama da dupla Dodô & Osmar.

quarta-feira, abril 04, 2007

exposição fotográfica dá vez aos invisíveis


O cerne da Mostra de Fotojornalismo Ruas Vivas é dar cara a anônimos que compõem o cenário urbano da capital baiana. Em cartaz no Memorial da Câmara Municipal de Salvador até o dia 13 de abril, a exposição apresenta 65 imagens de ambulantes, pedintes e transeuntes comuns, feitas pelos alunos do curso de Jornalismo da FIB (Centro Universitário da Bahia). O trabalho envolveu mais de 50 estudantes e foi realizado entre setembro e dezembro de 2006, como atividade da disciplina Fotografia Jornalística I.
O fotojornalista Paulo Munhoz, professor e responsável pela curadoria, explica que o mote do trabalho é provocar no discente um olhar crítico sobre o mundo em que vive e convertê-lo em texto jornalístico imagético. “Alguns alunos nunca tinham caminhado pelo Centro de Salvador. Esse exercício lhes revelou que as ruas possuem vida própria e tramam enredos que fogem ao nosso olhar”, diz. O nome Ruas Vivas nasceu, justamente, da idéia primordial do projeto. “Transformar coadjuvantes em protagonistas, atores essenciais à vida urbana, a sua existência econômica e estética”, define a acadêmica e uma das coordenadoras da exposição, Cláudia Correia.
Realizar um trabalho fotográfico, onde os atores estão desacostumados com o papel principal, é uma tarefa árdua, mas gratificante. “Após fotografar em vários locais da cidade, como Barris e Calçada, foi divertido conversar com um mendigo e até fugir de um louco”, conta a aluna e fotógrafa Sheiliane Silva. Embora não existisse um delimitador de região, a maioria das fotos foi realizada no Centro da cidade e nas periferias. “Nos bairros, cujos moradores têm condições financeiras mais elevadas, esses personagens foram banidos. Restaram ruas assépticas e maquiadas”, explica Munhoz.
Na exposição, há imagens sob vários ângulos e concepções, que carregam seus discursos próprios, além da imagem pura. Fotos mais densas, como a de uma mulher, sentada em um banco no Campo Grande, delirando com uma chaga na perna, de Sheiliane Silva; mais leves, como a de um vendedor que cochila ao lado das bolas, feita por Clarissa Avelar; e transcendentais, como a de uma mulher negra, lavando roupas no Parque do Abaeté, acompanhada por sua filha, realizada por Cláudia Correia.
A mostra já tinha sido exposta na própria FIB, mas a intenção dos organizadores era ampliar os horizontes do trabalho. “Ao atravessarmos os muros da faculdade, cumprimos com o dever de disseminar os trabalhos acadêmicos para a comunidade”, frisa Munhoz. O museólogo e responsável pelo Memorial da Câmara Municipal, Afrânio Simões, cedeu o espaço devido à ligação direta do projeto com a cultura da capital baiana. O funcionário público Edvan Miguez, um dos visitantes da mostra, considerou relevante a exposição: “São belas fotos que contemplam fielmente a Salvador dos esquecidos e excluídos, principalmente pelos órgãos oficiais”, comenta.

implantação da universidade nova carece de debate

O ensino superior no Brasil é alvo de mais uma discussão. A proposta do reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar de Almeida Filho, denominada Universidade Nova, vai além daquela já apresentada, desde 2003, pelo Ministério da Educação (MEC), cuja ênfase é mais política que acadêmica. O objetivo é modificar a base, visando a uma transformação radical na estrutura da arquitetura acadêmica da educação superior brasileira. Durante a aula inaugural da FIB (Centro Universitário da Bahia), no último dia 7, às 19h30, no Centro de Convenções da Bahia, Naomar exibiu os limiares de sua moção, que possui questões inovadoras, mas deixa alguns questionamentos em aberto.
A estrutura curricular confusa, com um sistema de títulos desarticulado e numerosas qualificações são aspectos bastante peculiares do modelo curricular atual. A Universadade Nova baliza e minimiza tais problemas, porém não os resolve. No modelo presente nas universidades, o estudante pode obter uma formação superior com licenciatura ou bacharelado. Isso sem contar as habilitações, ênfases, e o mais recente diploma de tecnólogo. Há também as denominações profissionais diretas (médico e dentista, por exemplo), especialização, mestrado, MBA (?!) e doutorado. Essa enxurrada de intitulações é maléfica para o profissional. “Há risco de isolamento intelectual e até recusa em alguns países desenvolvidos, devido à incompatibilidade dos títulos”, pondera Naomar.
A Universidade Nova tem a proposta de dar outra cara à estrutura curricular dos cursos profissionais, baseada nos dois grandes modelos mundiais: o norte-americano e o europeu. Bacharelado Interdisciplinar (BI) é a denominação que substituiria a graduação atual. O BI teria a duração de 3 anos e seria dividido por 4 grandes áreas do conhecimento: humanidades, artes, tecnologias e ciências, esta, sub-dividida em mais 5 grupos (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas). Para dificultar ainda mais, o BI poderá ter 3 formações (geral, diferencial e profissional) e um curso tronco, cada um com suas inúmeras especificidades e características. Outro agravante: a proposta inova, mas não simplifica a organização curricular.
O projeto idealizado pelo reitor da UFBA busca solucionar evidentes problemas no ensino superior. Precocidade na escolha da profissão é um item nulo com a implantação do BI, já que o aluno tem 3 anos para decidir-se, estando já no âmbito acadêmico. O BI também extingue a formação tecnológica-profissional e inculta, favorecendo o fomento à cultura, devido à amplitude das disciplinas oferecidas a todos os alunos. Outra questão fundamental é a flexibilização curricular. “O estudante pode construir seu currículo e evitar decepções. Isso visa a diminuir a taxa de evasão escolar que é de 40% nas universidades públicas”, diz Naomar.
O reitor da UFBA considera “primitivo” o atual processo seletivo e fala em ajustes. É difícil discordar dessa rudimentariedade, entretanto não é apresentado, concretamente, o substituto do traumático vestibular, e nem como seriam as seleções internas. Outra lacuna é a exclusão das faculdades particulares (grande maioria em Salvador, diga-se de passagem) do projeto, que só prevê as instituições públicas. Não há um motivo explícito para isso. Em relação ao sucesso da aplicabilidade do projeto, há uma questão curiosa: a Universidade Nova é uma homenagem ao educador Anísio Teixeira. Na sua explanção, Naomar também cita o ex-reitor da UFBA, Edgar Santos. Juntos, formam um trio de profissionais de prestígio e todos possuem formação baseada naquele modelo da universidade de Coimbra...! Diz-se que a esperança é um risco que se precisa correr, portanto é esperar para ver.