quinta-feira, novembro 23, 2006

erasmo tem razão



Esse texto, como de costume, é uma exigência da disciplina lecionada por Mari. Fizemos, numa agradável tarde de sábado, uma visita ao Museu de Arte Moderna (MAM), onde está havendo uma exposição sobre Carmem Miranda. Mari pediu que fizéssemos postagens (no blog www.oquequeabaianatem.blogspot.com) relacionadas ao que vimos na exposição. Meu texto faz uma relação sobre o patamar alcançado pela "Pequena Notável" e o fato de ser mulher. Uma nítida "desconstrução" ao abominável rótulo de "sexo frágil".

Eu sou um defensor das mulheres. Um defensor nato. Das mulheres e dos cães (animal fantástico, mas sobre estes vou falar em outra oportunidade). Elas são, naturalmente, o oposto do que foi convencionado ao longo dos tempos: sexo frágil. Nunca percebi em minha mãe, por exemplo, limitações distintas das encontradas no sexo oposto (salvo nos casos em que nos homens era pior!). Não me recordo de ter notado em minha namorada, em qualquer situação - física ou emocional - alguma insignificância em relação a mim. Por essas e outras, vai por terra essa convenção démodé (assim como esse termo, que fui buscar não sei aonde e nem sei se está grafado corretamente!). Um sublime exemplo da magnitude do "ser mulher" foi batizada como Maria do Carmo Miranda da Cunha e atendia por Carmem Miranda. Uma "portuguesinha" de nascimento, brasileira de coração e baiana por adoção (afinal de contas, "baiana" era a caracterização oficial dos seus trajes!). Exígua na estatura, soberana na veia artística. Provou durante alguns anos - poucos, porém intensos - a grandeza da feminilidade sem rival. Vi em algum momento da Exposição no Museu de Arte Moderna (MAM), dedicada à musa, uma passagem que afirmava que ela foi e ainda é a mulher brasileira mais conhecida pelos terráqueos (e marcianos e...). Não sou um "reacionário" de plantão. Desses que dizem que tudo, antigamente, era melhor. Nem tudo, mas.... Demos à César o que é de César. Atualmente muitas (infelizmente são mulheres contemporâneas as que mais se submetem a tais situações) atrizes-modelos-dançarinas almejam o sucesso. Não aquele abarcado por Carmem Miranda, que ganhou o mundo, mas o sucesso no seu sentido mais reles: efêmero e sem recheio. A Pequena Notável, que era uma gigante no palco, transitou pela terra do Tio Sam, em anos dourados, com honras de rainha. Conquistou público e crítica norte-americanos exportando, com orgulho imponente, arte brasileira. Durante tempos viu os Estados Unidos curvarem-se e reverenciarem-se a ela, após suas apresentações inigualáveis. O vídeo exibido no MAM apresenta um momento ímpar na vida dessa artista de mão cheia. O momento do fim. Desta vez, em sua derradeira aparição, foi ela quem ficou de joelhos para a platéia (sempre e sempre a aplaudi-la). Infelizmente (pelo menos para nós, que a perdemos) aquele arrear não era de agradecimento (ou era?!), mas de demissão. Um ato involuntário que se tornou simbólico. Ao ser erguida, não perdeu, jamais, a pompa. Mão direita no umbigo (quase sempre à mostra!), esquerda ao léu, sorriso largo e marcha-a-ré. "Adeus batucada". E ainda dizem que a mulher é o sexo frágil??? Erasmo estava certo: "mas que mentira absurda"!

segunda-feira, novembro 06, 2006

uns mais iguais que os outros

Esse tem a ver com a disciplina Jornalismo Especializado I. Mesmo não sendo obrigatório, resolvi escrever, pois me empolguei com o assunto.


Às vésperas de sua despedida da Timbalada, o vocalista Ninha, ao comentar sobre Carlinhos Brown, disse algo real e interessante: "Ele está sempre na frente, sempre reinventando, quando você pensa que vai pegar no calcanhar dele, já deu mais um passo". O motivo de apresentar essa passagem da entrevista de Ninha é para fazer uma analogia entre a relação da Rede Globo e suas "concorrentes" (concorrentes?!). Mais precisamente, os debates envolvendo os candidatos a presidente em 2006. É a mesma coisa. Imaginava-se, como na maior parte dos outros, um debate enfadonho (o que não deixou completamente de ser), mas a maior emissora do país inovou e renovou, como faz o já citado artista baiano. Supunha-se que por ser o último debate (e desta vez quase todas as emissoras apelaram para a discussão televisiva com a duvidosa desculpa de favorecimento à democracia), descambaria ao fracasso, ao cansaço. Mas não. Sob novo feitio e enfeites tecnológicos, o debate apresentou os dois candidatos à vontade no palco, livres para circular e sentar (e se entreolhar, e se encarar). Willian Bonner, o mediador, esbanjou competência, comando e objetividade desde a apresentação das regras (e pelo que declarou ao final, era uma estratégia da emissora para não ultrapassar o horário legalmente permitido). Sob uma pesquisa do Ibope, 80 eleitores indecisos de todas as regiões do país, compuseram a platéia e conduziram a discussão a partir dos seus questionamentos, frente-a-frente com os presidenciáveis. Desta vez, os jornalistas (da respectiva emissora organizadora do debate), nem estavam lá para dispararem suas perguntas aos candidatos, o que deu até saudade, devido ao que foi ouvido. Não é responsabilidade direta do presidente se "o meu patrão não assinou minha carteira", ou se "em minha casa entra água quando chove". O rebolado dos presidenciáveis trouxe essas e outras questões para o universo da discussão prevista. Esse formato apresentado pela Globo (talvez, ou, certamente, sem intenção) propiciou a estratégia de Lula, pois obrigou os candidatos a falarem sobre planos e propostas de governo. Ainda assim, Alckmin não titubeava em atacar o governo atual e seu partido, em qualquer oportunidade possível. O tempo mais curto para as respostas tornou o debate menos consistente, mas mais diligente. Conseguiu, sem muito esforço, manter o espectador aceso, frente à televisão (até aquela hora!). Foi o melhor debate. Teve a dose certa entre afronta e respeito, delações e reconhecimentos entre os candidatos. Apesar do olho-no-olho, pega-pega, risadinhas e tom meio irônico, o âmago entre os debates foi o mesmo: o petista convence pela verdade (a quem interessar possa) e o tucano pela oratória (a quem, também, interessar possa). Como dissera os Engenheiros do Hawaí, os debates envolvendo os candidatos a presidente, no fundo, foram "todos iguais, tão desiguais, uns mais iguais que os outros..."

mais do mesmo

Esse texto é uma obrigação da disciplina Jornalismo Especializado I. Fazer uma análise sobre o debate da Record.

O título do texto é uma alusão a uma canção da saudosa Legião Urbana, que retrata, exatamente, o que ocorreu no debate presidencial promovido pela Rede Record: mais do mesmo. A começar pelos mediadores. Exceto Ricardo Boechat, da Band, os outros foram da poderosa e maldita (pela própria classe jornalística) Rede Globo. Ana Paula Padrão, do SBT, Celso Freitas, da Record e hoje, claro, Willian Bonner, da própria Globo. O alvo deste texto será sempre o último debate, porém refere-se a todos os anteriores. Pois bem. As repetições começaram no formato, idêntico aos outros. Mediador no centro, os candidatos postados, cada um, à direita e esquerda do apresentador. Platéia arrumadinha (às vezes nem tanto) à frente de tal cenário, munida, dentre interessados diretos (políticos e organizadores de campanha) de jornalistas especializados, ávidos para questionarem os presidenciáveis da vez. Celso Freitas, então, anuncia as mesmas regrinhas castradoras. Regras elaborados para um robô programado responder, ou exigir que enquanto o candidato responda, faça uma contagem regressiva mentalmente para se situar. Convenhamos que o tempo (pelo visto, regra geral e imutável) de 2 minutos é curto, tanto que quase sempre é estourado pelos falantes. A temática do debate da Record foi a mesma: Alckmin nunca fala de planos de governo (o grande objetivo de um debate), só de denúncias e problemas relacionados ao partido que o presidente-candidato Lula é filiado. Até as respostas do atacado são as mesmas: apuração, será feita apuração e punição aos merecedores. O comportamento dos oponentes também é o mesmo. O petista um pouco mais nervoso, tenso e com discurso guiado pela emoção, e o tucano mais equilibrado, estratégico (?!) e dramático no sentido cênico. Parecia estar em um eterno teste para novelas. Talvez pelo fato de estarmos próximos às eleições, esse confronto perdeu em agressividade. Não que essa seja uma característica primordial em tais eventos, mas, com certeza, desperta o telespectador na sua poltrona. O falatório repetitivo e monótono deu o tom do debate. Geraldo e sua política à moda antiga, de discursos prontos, enfatizando os temas de modo geral (vou melhorar a educação, vou aumentar o emprego, vou melhorar a saúde....), quando o faz, e insistindo que tudo está péssimo no governo Lula. O petista, indiscutivelmente mais carismático e menos "malandro", seduz pela estampa verdadeira, humilde e projetos reais, mas enjoa com as comparações a outros ex-presidentes. Para quem assistiu aos outros debates, esse tornou-se pouco proveitoso. Para não ficarmos bitolados somente nas igualdades entre os debates, teve, pelo menos, uma distinção. A Record colocou a contagem regressiva na tela, certamente para demonstrar credibilidade ao telespectador quanto ao fiel cumprimento dos prazos pré-determinados (ainda que a decorrência do tempo seja mais importante para o candidato visualizar). Sem muita ilusão, de diferente mesmo foi só isso! Sobre o ocorrido no debate, finalizo com o que diz o slogan da campanha publicitária (que ele caracterizou como "desperdício") do candidato tucano: nem mais, nem menos, apenas os fatos.