quarta-feira, abril 04, 2007

implantação da universidade nova carece de debate

O ensino superior no Brasil é alvo de mais uma discussão. A proposta do reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar de Almeida Filho, denominada Universidade Nova, vai além daquela já apresentada, desde 2003, pelo Ministério da Educação (MEC), cuja ênfase é mais política que acadêmica. O objetivo é modificar a base, visando a uma transformação radical na estrutura da arquitetura acadêmica da educação superior brasileira. Durante a aula inaugural da FIB (Centro Universitário da Bahia), no último dia 7, às 19h30, no Centro de Convenções da Bahia, Naomar exibiu os limiares de sua moção, que possui questões inovadoras, mas deixa alguns questionamentos em aberto.
A estrutura curricular confusa, com um sistema de títulos desarticulado e numerosas qualificações são aspectos bastante peculiares do modelo curricular atual. A Universadade Nova baliza e minimiza tais problemas, porém não os resolve. No modelo presente nas universidades, o estudante pode obter uma formação superior com licenciatura ou bacharelado. Isso sem contar as habilitações, ênfases, e o mais recente diploma de tecnólogo. Há também as denominações profissionais diretas (médico e dentista, por exemplo), especialização, mestrado, MBA (?!) e doutorado. Essa enxurrada de intitulações é maléfica para o profissional. “Há risco de isolamento intelectual e até recusa em alguns países desenvolvidos, devido à incompatibilidade dos títulos”, pondera Naomar.
A Universidade Nova tem a proposta de dar outra cara à estrutura curricular dos cursos profissionais, baseada nos dois grandes modelos mundiais: o norte-americano e o europeu. Bacharelado Interdisciplinar (BI) é a denominação que substituiria a graduação atual. O BI teria a duração de 3 anos e seria dividido por 4 grandes áreas do conhecimento: humanidades, artes, tecnologias e ciências, esta, sub-dividida em mais 5 grupos (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas). Para dificultar ainda mais, o BI poderá ter 3 formações (geral, diferencial e profissional) e um curso tronco, cada um com suas inúmeras especificidades e características. Outro agravante: a proposta inova, mas não simplifica a organização curricular.
O projeto idealizado pelo reitor da UFBA busca solucionar evidentes problemas no ensino superior. Precocidade na escolha da profissão é um item nulo com a implantação do BI, já que o aluno tem 3 anos para decidir-se, estando já no âmbito acadêmico. O BI também extingue a formação tecnológica-profissional e inculta, favorecendo o fomento à cultura, devido à amplitude das disciplinas oferecidas a todos os alunos. Outra questão fundamental é a flexibilização curricular. “O estudante pode construir seu currículo e evitar decepções. Isso visa a diminuir a taxa de evasão escolar que é de 40% nas universidades públicas”, diz Naomar.
O reitor da UFBA considera “primitivo” o atual processo seletivo e fala em ajustes. É difícil discordar dessa rudimentariedade, entretanto não é apresentado, concretamente, o substituto do traumático vestibular, e nem como seriam as seleções internas. Outra lacuna é a exclusão das faculdades particulares (grande maioria em Salvador, diga-se de passagem) do projeto, que só prevê as instituições públicas. Não há um motivo explícito para isso. Em relação ao sucesso da aplicabilidade do projeto, há uma questão curiosa: a Universidade Nova é uma homenagem ao educador Anísio Teixeira. Na sua explanção, Naomar também cita o ex-reitor da UFBA, Edgar Santos. Juntos, formam um trio de profissionais de prestígio e todos possuem formação baseada naquele modelo da universidade de Coimbra...! Diz-se que a esperança é um risco que se precisa correr, portanto é esperar para ver.